O Cathedral considera o seu início no final de 1989, quando os membros fundadores Lee Dorrian e Mark (Griff) Griffiths estavam discutindo sobre seu amor por bandas como Trouble, Pentagram, Sabbath, Saint Vitus, Melvins, Candlemass, etc. Isso ocorreu durante um show do Carcass, quando Griff era roadie da banda. Depois de algumas cervejas, a dupla concluiu que deveriam montar uma banda seguindo a veia de seus heróis e então nasceu a idéia.
Na manhã seguinte, a dupla acordou com uma ressaca terrível e com uma idéia martelando – “Ok, vamos montar uma banda doom, mas quem diabos, além de nós vai tocar nessa banda?”. Nessa época, o Death Metal estava quase atingindo o seu ápice e não muitas pessoas apreciavam a sonoridade lenta.
Griff era o editor do fanzine de Doom Metal “Under the Oak”, o qual ele vendeu para o Garry (Gaz) Jennings quase um ano antes, num show do Candlemass. Gaz tocou, foi vocalista e produziu a demo doom-thrash Sorrow’s Epitaph, sob o nome de Morbid Doom. Eles perderam o contato e Dorrian tinha sido apresentado ao Jennings pelo Dan Lilker algum tempo antes num show do Nuclear Assault. Tanto o Griff, como o Dorrian ficaram impressionados pelo amor e dedicação ao Doom Metal e obviamente ele se tornou a alternativa número 1!
O primeiro ensaio da banda foi no Rich Bitch Studios, em março de 1990. A formação era: Dorrian – vocais, Griff – guitarra base, Gaz – guitarra principal e Andy Baker na bateria, que já tinha tocado no Sacrilege, Varukers e no Cerebral Fix entre outras bandas. Nesse ensaio, Gaz e Griff tocavam trechos das músicas do Saint Vitus e trocavam idéias de riffs. Depois de mais alguns ensaios, ficou claro que Andy não estava muito entusiasmado com o wah-wah mais vagarosamente devagar que urgia dos amplificadores dos outros membros e logo ele foi substituído por Bem Mochrie, que além de baterista do Coventry, também tocou em algumas bandas locais de hardcore. Após uma busca sem resultados por um baixista, Griff decidiu trocar as seis cordas por quatro. O amor da banda pelas guitarras gêmeas do Trouble era tanto que eles decidiram que a banda não poderia estar completa sem um segundo guitarrista, que veio a ser o Adam Lehan, se juntando à banda bem na gravação da primeira demo.
Quando o Cathedral surgiu na cena underground, eles estavam gritando a mais dolorosa e lenta lamentação que o mundo já ouviu. Isso foi uma grande surpresa, pois Gaz Jennings e Adam Lehan já fizeram parte da banda thrash Acid Reign e o vocalista Lee Dorrian havia acabado de sair do Napalm Death.
Seu primeiro lançamento, “In Memorium”, foi uma demo produzida pela demo e lançada pelo selo que o Lee Dorrian acabara de montar, o Rise Above Records e já esse trabalho, a banda chamou a atenção mundial. Após esse lançamento, a banda participou de vários shows, em turnês com o S.O.B., Saint Vitus, Morbid Angel, Young God e Cranes. No ano seguinte e com um baterista a menos, eles assinaram com a Earache do Reino Unido e lançaram o “Forest of Equilibrium”, que contou com a participação do ex-Dream Death e atual membro do Penance, o baterista Mike Smail. Assim como a demo, esse álbum também foi muito bem recebido na cena underground e atraiu a atenção da gravadora americana Columbia.
Em 1992, o Cathedral recrutou um outro ex-membro do Acid Reign, o baterista Mark Wharton e gravou o EP “Soul Sacrifice”, o qual começou a mostrar para onde a música do grupo estava se direcionando. Era uma direção mais setentista, com bastante influência hard rock ou “stoner doom”, se preferir. A banda participou da turnê Gods of Grind, ao lado de grandes feras como Carcass, Entombed e Confessor e após essa turnê, a banda voltou para a Europa para tocar em turnê com o Saint Vitus.
Com o EP “Soul Sacrifice” sendo lançado nos Estados Unidos pela Columbia, a banda teve sua primeira jornada através do Atlântico com o Napalm Death, Carcass e o Brutal Truth. A extensa turnê foi conhecida como The Campaign For Musical Destruction e foi um grande sucesso. Infelizmente, as negociações com uma gravadora maior e a turnê levaram Griff a sair da banda durante a turnê.
Nessa ocasião, a banda recorreu ao baixista Mike Hickey para cumprir seus shows. A banda tocou no CMJ de Nova Iorque junto com Trouble, COC e The Obsessed, seguido de uma viagem à Israel no natal de 1992. Ainda antes do final do ano, a banda tocou na Alemanha com o Napalm Death, Trouble, The Obsessed e o Crowbar. A banda preparava o seu monumental Ethereal Mirror (que originalmente foi pré-lançado com o nome de Decadence).
Com o lançamento desse álbum, a banda embarcou numa turnê européia com o Sleep e o Penance, além de aparecer em alguns shows alemães com o Cannibal Corpse e o Fear Factory. Logo após, a banda gravou seu primeiro cd ao vivo no Japão, junto com os amigos do Brutal Truth. Estes foram os últimos shows com Mike Hickey, que logo se juntou ao Carcass. Mike foi substituído por Scott Carlson, que infelizmente nunca tocou num álbum deles.
A essa altura, o Cathedral começou a descobrir as desgraças de uma grande gravadora. A Columbia queria uma turnê árdua, a banda acabou concordando e abriram uma grande turnê com o Mercyful Fate e o Flotsam & Jetsam. Logo depois, concluíram que não estavam felizes com essas condições e não muito tempo depois, a banda deixou a turnê.
Após algum tempo, a banda entrou mais uma vez em estúdio com o desejo de gravar algo mais fora das regras, diferente de como foi com a grande produção do Ethereal Mirror. Testando a promessa da Columbia de “criatividade livre”, o Cathedral lançou o Statik Majik em 1994 no Reino Unido. Esse EP de 40 minutos continha o épico “Voyage of the Homeless Sapien”, que já fez o EP inteiro valer a pena! A Columbia lançou o EP como Cosmic Réquiem nos EUA, que tinha uma capa diferente e uma faixa alternativa para o álbum do Reino Unido (“A Funeral Request-Rebirth” no lugar de “Midnight Mountain”). O ponto negativo foi que a gravadora omitiu a “Voyage of the Homeless Sapien” e o EP veio com a “Fountain of Innocence”, pois a “Voyage of…” não seria facilmente assimilada ao mercado de metal (A Columbia lançou uma fita demo com o nome “Innocence Requiem sem o conhecimento da banda). E a lua de mel com a Columbia começa a dar os primeiros sinais de término.
A banda ofereceu ajuda na posterior turnê do Black Sabbath. Sem dois integrantes, isso não desanimou Lee, Gaz e Scott e ao contrário disso, seu desejo de tocar com os mestres só crescia, então decidiram convidar alguns integrantes do Pentagram (Joe Hassalvander – baterista – e Victor Griffin – guitarrista) para ver o que eles diziam. Os dois aceitaram e a turnê foi até aos EUA com uma banda nova que surgia, o Godspeed. A turnê estava muito divertida e os integrantes das duas bandas se tornavam cada vez mais amigos. Infelizmente as coisas não funcionaram tão bem assim com Victor, que voltou para casa depois de um show em Budapeste.
Continuar a turnê com quatro peças foi bem perturbador, mas na primeira noite com um só guitarrista, Tony Iommi conversou com a banda e disse que eles estavam muito melhor! Esse foi o incentivo que eles precisavam e provavelmente foi a razão da banda ainda continuar com quatro integrantes.
O resto da turnê foi bom, mas a banda ainda tinha dúvidas sobre seu futuro e sobre sua formação, então eles cancelaram uma turnê irlandesa que não demorou muito para ser reagendada. O baixista Scott Carlson vivia em Chicago e a banda decidiu continuar com 4 integrantes. Os caras eram amigos do Barry Stern do Trouble, que também morava em Chicago. Com ofertas de shows vindo o tempo todo, a banda pediu ao Barry para ajudá-los por algum tempo. Isso também significava que o Scott e ele poderiam tocar enquanto estavam longe da Inglaterra.
Barry tocou em alguns shows no Reino Unido e em alguns festivais na Bélgica (Viva Rock), França e Suécia (Hultsfred). A banda ainda procurava um baterista fixo, alguns testes foram feitos na Inglaterra, mas simplesmente não aparecia a pessoa certa para o emprego. Ainda tinham um contrato com a Columbia quando a Atlantic apareceu e não pareceu se importar muito com isso. A gravadora estava ansiosa para ouvir o material novo e Scott tinha feito amizade com um baterista chamado Dave Hornyak, que vivia em Chicago, mas gostaria de tentar com a banda. Foi decidido que Lee e Gaz se mudariam por um mês ou dois para Chicago para trabalhar no novo material e fazer testes com o Dave. Os ensaios foram legais e as coisas pareciam estar bem, então a banda se contentou com sua nova formação e tocou num show em Chicago antes de Lee e Gaz voltarem para a Inglaterra.
Apesar de estarem no final do ano, Dave e Scott vieram para a Inglaterra e a banda fez alguns shows com o Electric Wizard e com o Mourn. Depois entraram no estúdio Rhythm para gravar uma demo com novas músicas.
Tudo estava indo bem e a banda estava feliz com a nova formação e positiva sobre o futuro. E então, na véspera do natal, Lee recebeu uma ligação informando que a Columbia não queria mais trabalhar com a banda. A notícia foi uma grande surpresa para a banda, mas foi um estouro, pois significava que eles perderiam os integrantes americanos, Scott e Dave. Foi muito difícil para o Lee e o Gaz pensarem em perder o Scott, pois haviam se tornado bem amigos. Tentaram pensar em maneiras para que isso não acontecesse, mas a falta de recursos financeiros fez todas as alternativas impossíveis e Scott teve que sair.
Foi um período muito triste para o Lee e Gaz que agora eram os únicos dois membros que sobraram e foram forçados a questionar a probabilidade de continuar. Muitos novos negócios surgiram nos meses seguintes e a banda decidiu que o Cathedral era muito importante para desistir.
Então, após um aparentemente período final de dias negros, a banda decidiu fazer testes para achar um baterista permanente no Reino Unido pela segunda vez. Esses testes foram mais proveitosos e Lee e Gazz ficaram muito felizes em descobrir o talento do baterista Brian Dixon e do baixista Leo Smee, ambos da banda Into The Coven.
Não havia tempo para desperdiçar, pois exatamente uma semana depois dos testes, a banda voltou a fazer shows, dessa vez com o Deicide e o Brutal Truth, onde tocaram várias músicas novas.
Bem depois disso, a banda tocou no La Folies Festival na França com o Van Halen e no festival em Roskilde na Dinamarca. Logo depois entraram no estúdio Parkgate em Hastings para gravar o colossal Carnival Bizarre. Um álbum que misturava o espírito dos anos 70 com o doom para qual eles vivem. Uma das faixas do álbum, “Utopian Blaster” tem a participação nas guitarras do Tony Iommi.
O álbum teve uma maravilhosa aceitação e a banda excursionou extensivamente na Europa com o Crowbar, na Escandinávia com o Motorhead, no Reino Unido e Austrália com o Paradise Lost e fez um retorno memorável ao Japão. Se aprofundando na onda experimental/anos 70, a banda lançou mais um EP logo depois desse álbum. Intitulado “Hopkins (The Witchfinder General), o EP contém uma faixa (a faixa título) do álbum anterior. Tem também uma versão da música “Fire”, um hit dos anos 60 do The Crazy World of Arthur Brown. A surpresa foi que as pessoas não esperavam dessa banda renovada, foi a influência disco/gótica de “Purple Wonderland” e os blues funky de “Devil’s Summit” (que contava com o saxofone de Hammond, entre outras coisas).
E então o Cathedral retornou aos EUA para uma turnê com a lenda doom Trouble, que foi patrocinado pelo High Times e a Jagermeister!! Mas em algum momento dessa turnê, o Trouble decidiu não continuar mais, deixando o Cathedral abandonado nos EUA. A banda planejava tocar em vários shows, com bandas locais. Eles não conseguiram concluir a agenda de shows e voltaram para casa depois de um show em Nova Iorque.
Depois de fazer uma turnê com bases sólidas, a banda decidiu ir a um estúdio sem muita preparação. Exatamente um ano após a gravação do Carnival Bizarre, a banda retornou ao Parkgate para gravar o Supernatural Birth Machine com literalmente uma semana de preparação entre o final da turnê e o tempo de gravação no estúdio. Dorrian estava escrevendo várias letras literalmente minutos antes deles gravarem, sem ensaio algum.
A versão americana mais adiante complicou as coisas quando a Earache trocou completamente a capa do álbum para atender o tão chamado “stoner sound”. A banda não sabia nada sobre a decisão da Earache e começou a pedir desculpas para todos os que estavam bravos com a “capa inferior”.
Próximo ao lançamento do Supernatural… a banda foi à América do Sul para uma turnê agendada no Peru, Chile, Argentina e Venezuela. Mas as coisas ruins resolveram acontecer novamente! A primeira parada foi na Colômbia, onde a banda resolveu parar por três semanas. Os shows foram ótimos e a banda se divertiu muito e adorou o país, até as coisas começarem a dar errado.
Uma série de eventos aconteceram e foram perigosos para o bem estar das bandas, terminando com o Lee e o Leo deitados no chão, com armas na cabeça pela polícia, que prenderam todos os seus pertences e os prenderam. Depois de uma série de histórias trágicas, o promotor decidiu desaparecer com todo aquele dinheiro que supostamente deveria levá-los a outros países. A banda decidiu cancelar a turnê e voltar para a Inglaterra. Com uma formação estável e uma base de fãs cada vez maior, a banda continuou com uma turnê pesada na Europa, junto com o My Dying Bride, shows de retorno ao Japão, Austrália, Grécia, entre outros.
Depois desses shows, a máquina do Cathedral deu uma parada temporária. A banda não tinha escolha, somente esperar que a gravadora quisesse ou não lançar um próximo álbum. Por três anos, quase nada se ouviu dessa banda legendária. Muitos acharam que fosse o final.
A banda tocou no Dynamo Festival em 1998, e depois de um ano foi anunciado que um novo LP do Cathedral seria lançado no ano seguinte. Caravan Beyond Redemption foi o próximo LP, reunindo diversos elementos dos trabalhos anteriores e adicionando uma mistura à sua própria forma. Novamente foram para a estrada, excursionando a Europa com o Orange Goblin e o Terra Firma. Também voltaram ao Japão, Austrália, Grécia e depois fizeram diversos shows no Reino Unido.
Então foi anunciado que o vídeo Our God Has Landed (que originalmente foi gravado e lançado no Japão) seria relançado com alguns bônus. Além disso, o In Memorium ressurgiu como In Memoriam. Ainda na original Rise Above, o re-relançamento da demo teve uma outra capa. Ficaram fixados com o lançamento do EP com 5 faixas ao vivo gravadas em 1991 (que eram gravações alternativas do bootleg mexicano chamado Echoes of Dirges From the Nave). Não satisfeitos com o relançamento de sua demo, o Cathedral também re-relançaram as raridades Statik Majik e o Soul Sacrifice como um cd dois em um no Reino Unido e nos EUA. Um desses EP estava fora de catálogo e o outro somente seria possível de conseguir uma cópia importada. O Cathedral retornou alguns anos depois, em 2001, com o lançamento do Endtyme, que mostrou a enorme capacidade do seu mais pesado som! A produção foi muito mais desnuda, mas a banda demonstrou seu retorno ao som de suas raízes. Ainda em 2001, foi relançado seu dvd, o That Being The Our God Has Landed. A gravadora Southern Lord lançou um 7” ep com duas músicas raras da sessão do Endtyme. O ep com “Gargolian” e “Earth in the Grip of a Skeletal Hand” são sombrias e muito bacanas. Vale a pena ouvir!
Após a gravação do Endtyme, a banda pegou a estrada novamente. Foi para a Europa e para o Japão com o Hangnail, banda da gravadora Rise Above, mas fizeram uma parada nos EUA para tocar no New Jersey Metalfest. Mais tarde nesse ano, a banda excursionou na Europa com os velhos amigos do Entombed.
O lançamento do Endtyme também marcou o final da longa história da banda com a gravadora Earache. Depois de 10 anos de altos e baixos, a banda estava livre de contrato. Então decidiram aceitar o acordo oferecido pela Dreamcatcher. O começo de 2002 foi marcado pela volta aos ensaios em Liverpool e do começo do processo de criação da banda para seu novo álbum, Seventh Coming. Muito mais variado e menos denso do que o Endtyme, o álbum leva a banda numa viagem com mais contraste. Com uma produção dinâmica, mais uma vez com a cortesia de Kit Woolven, e a arte criada pelo membro não oficial da banda Dave Patchett, a banda mais uma vez foi para a estrada.
Teeth Of Lions Rule The Divine é uma super banda formada pelo Lee Dorrian, pelo guitarrista Greg Anderson (que toca no Goatsnake), pelo baixista Stephen O’Malley (que toca no Sunn O)))), pelo baterista Justin Greaves que toca no Iron Monkeys. Em 2002 foi lançado o primeiro álbum, “Rampton” pela gravadora Southern Lord. Esse cd é um marco na arte da música no gênero do psicodélido trance-doom metal. Além de conter uma cover de “New Pants and Shirt” do Killdozer, o álbum contém também duas outras músicas: a “He who accepts all that is Offered” com 30 minutos e outra música com 17 minutos chamada “The Smiler” com um riff excelente!
Em 2003 a banda assinou contrato com a Nuclear Blast e logo em 2004 foi lançada uma coletânea chamada The Serpent’s Gold. Enquanto a gravadora cuidava desse lançamento, a turma de Dorrian já estava se preparando para lançar mais um álbum, dessa vez em casa nova e todos estavam ansiosos para saber o que mais estava por vir.
Em 2005, a banda lança o maravilhoso e esplêndido álbum “The Garden Of Unearthly Delights” e nos mostra que continua em sua melhor forma!!! Com uma maravilhosa capa fazendo alusão à obra magnífica de Bosch, o álbum nos leva a uma viagem maravilhosa, literalmente ao “jardim das delícias sobrenaturais”.
E para nós, fãs do Brasil, a grande vantagem da banda ter assinado com a Nuclear Blast é que podemos esperar um lançamento dos álbuns no Brasil quase que simultaneamente, como foi com esse último álbum.
Para onde os cavalheiros cósmicos do doom irão a partir daqui? Poderemos somente assistir e esperar!!